Aparentemente desde que fomos
concebidos somos cercados e cada vez mais sufocados por aquilo que
chamamos de felicidade. Crescemos ouvindo os adultos dizendo que
estava a procura dela, sem nunca definir exatamente o que era. A
puberdade vem e de repente estamos a flor da pele para ser feliz.
Pior ainda, a queremos naquele exato instante, tudo ao mesmo tempo.
Continuamos a crescer e de repente já estamos a repetir o que os
nossos pais clamavam com tanta fé sobre essa palavra curiosa.
Meu melhor palpite para tamanha
frustração é o conceito errado do que seria a felicidade. Talvez
se tivessem nos ensinado desde criança que a vida na verdade é um
equilíbrio e não uma gangorra que pesa só para um lado, viveríamos
com mais franqueza e pararíamos de correr atrás. Ela simplesmente
viria até nós. A própria entediante rotina pode ser feliz se o faz
se sentir bem. Muitas vezes é a paz da repetição de um gesto ou um
ato que carrega o conforto de um ambiente conhecido e amigável, como
acordar bravo com seu bichinho de estimação, mas ainda feliz dele
estar alí.
É absurdo o quanto nos tornamos
pessoas infelizes. Mais absurdo ainda é o tempo que levamos para
perceber a falha de nossas perspectivas. Geralmente já estamos
velhos, preferimos ouvir a discutir, deixar pra lá a guardar rancor.
É nessa ou desta maturidade que passamos a perceber que os problemas
não são tão grandes e não dá para resolver todos de uma vez,
alguns levam mais tempo que outros. Num jogo de marketing
surpreendente, nossos empregos nunca são bons o suficiente (sem
entrar no mérito político-social), nosso(a) parceiro(a) não tem
corpos tão perfeitos (e são lotados de defeitos), nossa aparência
não corresponde aos padrões. Demoramos para entender que o nome
disso é publicidade e não felicidade.
Para cada vez que você pensar em um
dia ser feliz, esqueça esse dia. A felicidade não é um papa-léguas
para você sair correndo desesperado atrás. Não adianta correr,
você não irá alcançá-la. Não é um vírus que transmite pelo
ar, não é um parasita para você hospedar. É um momento tão
singular e tão íntimo quanto um orgasmo e assim como o mesmo, vem
de você. Seja feliz (já que insistimos em usar essa palavra) de
dentro pra fora, no prazer dos detalhes, nem que seja hoje, nem que
seja agora.
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