quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Cidade em Festa

Com a cidade de São Paulo em festa me pareceu natural refletir sobre a minha morada aqui. Temos essa mania de esquecer, deixar de lado, ignorar e na maioria das vezes insultar, para em determinada data cobrir de afetos. Seguimos o calendário, marcamos um dia para comemorar e deixar vivo na memória. Seja o dia da água, a páscoa, dia do índio, dia de São João, dia dos namorados, dia do seu aniversário, dia das crianças, dia de natal. Cada data tem a sua construção histórica, sua importância, seu marco, sua tragédia ou comemoração. Lembramos de tudo o que a gente comemora o ano todo? Talvez, esporadicamente. Mas precisamos dessa data marcada no calendário para que pelo menos uma vez no ano recordemos.

Lembro-me de certa vez falar a um paulistano de como eu via a cidade. Suas vastas opções (em tudo), tanta coisa acontecendo, tantas oportunidades que poderiam surgir, tantas pessoas diferentes para conhecer e de tantos lugares. "Nossa, você tem uma visão tão otimista de São Paulo". Lembro-me de responder que precisava ter senão iria embora, retornaria para a minha Ítaca, no conforto do espaço limitado que eu conhecia.

Hoje as pessoas comemoram, brindam, pulam, brincam. É feriado em plena segunda-feira, isso com certeza é algo a se comemorar. Como sempre o dia acaba, a luta não parou, muito menos a cidade. Mas amanhã ficam os restos do dia de hoje, pra voltarmos ao que éramos ontem. São Paulo volta a ser a cidade pessimista sobre si mesma. Talvez seja o nosso jeito torto de amar. Sim, São Paulo, eu a amo, por me acolher de tão longe.

Agora, minha querida cidade, em breve pretendo estar de partida para outra cidade me acolher. Quero ver o mundo. Meus olhos anseiam por ver novos lugares e meus pulmões querem novos ares. Muito em breve será hora de mudar. Daqui até lá viveremos ainda essa nossa relação de amor e ódio. Quem sabe depois de toda uma vida vivida meu corpo possa ser jogado no espaço e eu veja o mundo como um todo. E quando alguém quisesse lembrar de mim, não teria data no calendário, seria só olhar as estrelas.

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