segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Profissão Artista

Na noite passada tivemos a premiação do Globo de Ouro e pensando em coisas aleatórias me veio essa: certas coisas não podemos simplesmente fugir delas. Aleatório demais, talvez. Falo daquelas coisas que se você fugir passará a vida toda fazendo isso, correndo, se escondendo, se disfarçando.

Venho de uma cidade que só tinha um cinema que exibia apenas um filme por vez, isso quando exibia. Lembro-me da animação Tarzan ser o primeiro filme que eu vi na telona. E filme pra mim sempre foi sagrado. Outras recordações explodiram na minha mente. Em poucas ocasiões juntei duas amigas para alugar alguns filmes (bons tempos de locadora) e era catastrófico pra mim. Ela conversavam, riam, se beliscavam, davam piruetas, cambalhotas, tudo, menos prestar atenção no maldito filme. Acabava por achar que tinha algo de errado comigo, pois eu ficava profundamente magoada, além de irritadíssima! Quando saiu o amado e odiado “Crepúsculo” (sim, o primeiro) eu tinha a idade do público alvo e eu não comprei a ideia. “Mas todo mundo vai!”. Entendam, eu era uma adolescente em busca de aceitação, claro que esse é um bom argumento. Fui e foi novamente desastroso. Mesmo dentro da sala escura era a mesma agitação com aquela pitada de romance adolescente pão com ovo. Se tinham me chamado pra ver o filme, vamos assistir ao maldito filme! De novo achei que tinha algo de errado comigo.

Moro na capital paulista há 6 anos e muitos me perguntam sobre adaptação. Aqui eu pude me reconhecer. Vou ao cinema (geralmente) (na maioria das vezes) sozinha e naquela sessão vazia de segunda-feira às 11h da manhã. Isso não me incomoda, não mais e acabei descobrindo que não tinha nada de errado comigo. Eu tinha e tenho é amor por cinema, pela atuação dos atores, pela câmera, pelo roteiro, pela experiência, por aonde aquele filme vai me conduzir e fazer chegar. Por me fazer esquecer que estou numa sala escura, seja a da minha casa ou a do cinema, por questionar, intrigar, motivar, politizar, criticar, emocionar.

Comecei a fazer teatro pelo amor ao cinema. Apaixonei-me pelo teatro e cá estou declarada artista. Esse pode ser um tropeço no meio do caminho muito comum e muita gente se frustra nessa ideia de começar uma coisa pra ir para outra que é completamente diferente. Conto aqui rapidamente que também tentei começar um grupo de teatro na escola lá pela 4ª ou 6ª série, mas, claro, ninguém levava a sério. Parei para pensar agora que na 4ª série eu já escrevia pecinhas de teatro... Senti certo orgulho de mim. Voltando ao erro, acontece que eu não queria apenas ser atriz, o processo teatral me apaixona, assim como o fazer cinema e de vez em quando quero transitar por camadas diferentes do processo. Essa é uma escolha desafiadora, confesso, mas hoje reconheço que é o que eu sou.


Não há nada de errado comigo, apenas sou artista. Não tenho a bagagem que esperava ter de ambas as artes, mas cá estou com a que eu tenho e tem espaço pra mais. Não importa para onde eu vá, ou o que eu tente fazer, sempre, SEMPRE voltarei a isso: mal paga, fudida, desempregada, apertada, contas atrasadas, sem 13º, artista.

Um comentário:

  1. Ahh a vida de artista! Um dia ela te paga, menina Whintney!
    Vai pagar para nós dois. Acredite em mim.
    Vamos fazendo... aliás, vamos fazer juntos? `^^´

    ResponderExcluir