Na noite passada tivemos a
premiação do Globo de Ouro e pensando em coisas aleatórias me veio essa: certas
coisas não podemos simplesmente fugir delas. Aleatório demais, talvez. Falo
daquelas coisas que se você fugir passará a vida toda fazendo isso, correndo,
se escondendo, se disfarçando.
Venho de uma cidade que só tinha
um cinema que exibia apenas um filme por vez, isso quando exibia. Lembro-me da
animação Tarzan ser o primeiro filme que eu vi na telona. E filme pra mim
sempre foi sagrado. Outras recordações explodiram na minha mente. Em poucas
ocasiões juntei duas amigas para alugar alguns filmes (bons tempos de locadora)
e era catastrófico pra mim. Ela conversavam, riam, se beliscavam, davam
piruetas, cambalhotas, tudo, menos prestar atenção no maldito filme. Acabava
por achar que tinha algo de errado comigo, pois eu ficava profundamente magoada,
além de irritadíssima! Quando saiu o amado e odiado “Crepúsculo” (sim, o
primeiro) eu tinha a idade do público alvo e eu não comprei a ideia. “Mas todo
mundo vai!”. Entendam, eu era uma adolescente em busca de aceitação, claro que
esse é um bom argumento. Fui e foi novamente desastroso. Mesmo dentro da sala
escura era a mesma agitação com aquela pitada de romance adolescente pão com
ovo. Se tinham me chamado pra ver o filme, vamos assistir ao maldito filme! De
novo achei que tinha algo de errado comigo.
Moro na capital paulista há 6
anos e muitos me perguntam sobre adaptação. Aqui eu pude me reconhecer. Vou ao
cinema (geralmente) (na maioria das vezes) sozinha e naquela sessão vazia de segunda-feira
às 11h da manhã. Isso não me incomoda, não mais e acabei descobrindo que não tinha
nada de errado comigo. Eu tinha e tenho é amor por cinema, pela atuação dos
atores, pela câmera, pelo roteiro, pela experiência, por aonde aquele filme vai
me conduzir e fazer chegar. Por me fazer esquecer que estou numa sala escura,
seja a da minha casa ou a do cinema, por questionar, intrigar, motivar, politizar,
criticar, emocionar.
Comecei a fazer teatro pelo amor
ao cinema. Apaixonei-me pelo teatro e cá estou declarada artista. Esse pode ser
um tropeço no meio do caminho muito comum e muita gente se frustra nessa ideia
de começar uma coisa pra ir para outra que é completamente diferente. Conto
aqui rapidamente que também tentei começar um grupo de teatro na escola lá pela
4ª ou 6ª série, mas, claro, ninguém levava a sério. Parei para pensar agora que
na 4ª série eu já escrevia pecinhas de teatro... Senti certo orgulho de mim. Voltando
ao erro, acontece que eu não queria apenas ser atriz, o processo teatral me
apaixona, assim como o fazer cinema e de vez em quando quero transitar por
camadas diferentes do processo. Essa é uma escolha desafiadora, confesso, mas
hoje reconheço que é o que eu sou.
Não há nada de errado comigo,
apenas sou artista. Não tenho a bagagem que esperava ter de ambas as artes, mas
cá estou com a que eu tenho e tem espaço pra mais. Não importa para onde eu vá,
ou o que eu tente fazer, sempre, SEMPRE voltarei a isso: mal paga, fudida,
desempregada, apertada, contas atrasadas, sem 13º, artista.
Ahh a vida de artista! Um dia ela te paga, menina Whintney!
ResponderExcluirVai pagar para nós dois. Acredite em mim.
Vamos fazendo... aliás, vamos fazer juntos? `^^´